Helena

Homenagem, celebração, tributo ⏤ um destes, ou outro termo parecido, poderia ser utilizado para esta exposição inaugural do CORREDOR. Contudo, nenhuma delas parece aproximar-se às intenções que levaram a realizar esta exposição.

Trata-se de um impulso, uma intenção da nossa parte de reagir à notícia do falecimento de Helena Almeida no final de Setembro, motivado por profunda admiração pela autora e pelo seu trabalho, e que nos leva a este projecto: Helena. O espaço onde se situa e para o qual a exposição foi concebida, o corredor de casa, tinha já sido designado com esta função, e finalmente agora chega à sua materialização.

As ideias foram aparecendo espontaneamente e, inevitavelmente, cruzando-se com a trajectória pessoal de ambos. Daí surge a proposta do Pedro de partir da tese de mestrado em história da arte da Vanessa (Genoa, 2008) – que trata do trabalho de Helena Almeida desde Alternativa Zero até a sua participação na Bienal de Veneza em 2005 – e transforma-la num objecto expositivo. Esta escolha, embora não de uma forma planeada, cruza-se com interesses que por outro lado Pedro já tem explorado na sua investigação no âmbito da sua pós-graduação em design de comunicação exposta na Faculdade de Belas artes de Lisboa e no Arquipélago ⏤ Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores.

A leitura como percorrência, caminho, como acto dinâmico e instável entre o andar e a paragem suspensa, tal como momentos suspensos parecem os trabalhos de Helena. Ao mesmo tempo trata-se de um andamento não linear e não apenas no plano, ou num plano: há saltos, recuos para dentro das folhas, há olhar e tacto que se encontram e que remetem para os desenhos habitados de Helena Almeida (realizados nos anos setenta), dentro do andamento de um friso (obra mastodôntica de 1986 e de alguma forma enciclopédica por conter todo o universo que povoa a trajectória artística da Helena: o retrato não retrato, a pintura, a casa, para referir alguns).

Helena é a nossa aproximação ao trabalho de Helena Almeida, e ao mesmo tempo, inspirados pelas pinturas e desenhos habitados que ela realizou, pelas procuras e formas de activar, de dar vida a práticas que nos anos sessenta do século XX pareciam esgotadas e incapazes de responder às exigências de expressão artística do tempo, procura ser um convite a habitar este espaço com ela.